terça-feira, 3 de maio de 2011

Ponto de exclamação







Ela não ouviu seu poema. De repente, não era a hora pra ter ouvido, ela poderia não estar preparada, ele poderia gaguejar, usar um tom de voz malicioso e acabar afugentando a moça.
Ou ela poderia, ali mesmo, se apaixonar e se atirar aos seus braços na frente de todos e dar inicio à um romance belo e duradouro.
Mas nada disso aconteceu. Ela apagou o cigarro em um cinzeiro de metal, soprou para cima a fumaça, que beijou o teto e foi tragada pelo tecido que ali fazia o papel de forro. Caminhou sem olhar pra trás. Ela tinha uma vida para viver, tinha suas coisas de domingo à noite para resolver, tinha coisa alguma como motivo para ali ficar.
Mas havia o poema para ser lido. O poema que descrevia o que olhos encantados viam quando olhavam pra ela. Versos amadores de um coração profissional. As palavras que nasceram lá no outrora e que só agora caminhavam no papel.
O poema foi lido, ao palco, ao quase choro, ao alivio de não encará-la ao som de suas próprias palavras. No fundo, nem ele sabia se aquele amor era real ou inventado, se foi só por segundos ou já durava meses. Sabia apenas que, ali, nas suas anotações, o poema não provocaria nada em ninguém. Não era justo guardar para si palavras capazes de dar vida à respostas.


Marcelo Poeta

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